Cabelo, Empreendedorismo e Conexão com o feminino: Uma entrevista com Isabel Borges

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Cabelo, Empreendedorismo e Conexão com o feminino: Uma entrevista com Isabel Borges

No segundo semestre de 2021, tivemos a oportunidade de conversar com Isabel Borges.

Isabel é a cabeça por trás da Curly Care, da Dermabox, da Lumos, da Turban e está diretamente envolvida em uma série de outros negócios.

A empreendedora nos contou um pouco sobre sua transição, a relação com o próprio cabelo, trabalho, descanso e o reencontro com a energia feminina.

Olá Isabel! Você deve ouvir esse pergunta com frequência, mas vou fazer ela mesmo assim, como foi a sua jornada em relação ao seu cabelo?

Isabel Borges: Quando eu era criança, minha mãe não tinha o cabelo cacheado, não tinha o conhecimento e as ferramentas para conseguir cuidar do meu cabelo da forma correta. Eu sempre tive dificuldade de cuidar do meu cabelo, antes de entendê-lo melhor, antes de passar pela transição capilar. O processo de cuidar do cabelo era sempre traumático e, assim que eu cresci um pouco, eu já quis alisar, para entrar dentro do padrão, para me sentir mais bonita.

Quanto tempo fazendo química, Isabel?

Isabel Borges: Acho que uns 10 anos alisando o cabelo. Aí comecei a passar pelo processo de desconstrução, de me reconectar com a minha própria identidade, de ficar curiosa a respeito de como era o meu cabelo natural. Eu já era adulta, já tinha possibilidade de cuidar eu mesma do meu cabelo, de pesquisar eu mesma a respeito, entender melhor… eu fui passando por esse processo de amadurecimento e foi quando eu resolvi que eu iria passar pela transição. Isso aconteceu lá atrás, tudo estava só começando a ser falado na internet. Havia pouquíssimos blogs e canais no YouTube falando a respeito, mas eu encontrei outras mulheres que estavam passando pela mesma situação que eu e isso me deu muita força. Então, já comecei entrar nesse mundo de cabeça. Passei pela minha transição e, a partir daí (pela minha busca por produtos adequados) que veio a ideia de que eu poderia trabalhar com isso, que era uma porta aberta para mim.

Foi aí então que surgiu a ideia de empreender nesse nicho de cabelos com textura

Isabel Borges: Isso! Eu resolvi entrar nessa porta e construir, a partir disso, um negócio. Tudo começou com a Derma e a coisa foi caminhando para essa diversificação, dentro desse universo que eu estava inserida. Eu acreditava muito nesse universo do cabelo com textura, um movimento que ainda ia crescer muito. Eu estava no começo e eu acreditava que ia ser algo grande, do ponto de vista comercial, um novo mercado. Tudo fluiu para que acontecesse dessa forma e pelo próprio fato de ter essa conexão pessoal, minha, com essa questão do cabelo.

e a tua relação com o teu cabelo hoje, como é?

Isabel Borges: Eu fiz duas transições. Primeiro fiz a transição de textura, só que eu continuava pintando e fazendo escova. Isso me levou a uma segunda transição. Nessa segunda que realmente eu deixei o cabelo 100% natural. Mas, fico sempre com fogo de mudar a cor, e eu volto a tingir, porque é isso: A vida é curta, o cabelo cresce e a gente tem que aproveitar!

São coisas que a gente se permite com o tempo, não é?

Isabel Borges: Faz pouco tempo que eu aprendi a necessidade de descanso, por exemplo. Eu sempre fui uma pessoa muito workaholic e eu sempre vi isso como um ponto positivo, como uma qualidade, como algo para se ter orgulho de certa forma. Durante um período da minha vida ter essa inclinação ao trabalho, muito forte, realmente me ajudou a conseguir dar conta de tantas coisas ao mesmo tempo … só que isso, ao longo do tempo, começa a cobrar um preço. Porque nós não somos máquinas, né? Até as máquinas precisam de manutenção, às vezes precisam desligar. E aí se desencadeou uma série de novos conhecimentos de busca por uma nova visão de como trabalhar que seja mais saudável, que seja mais conectada comigo mesma, foi um ponto de virada.

Mas como você faz para conciliar o descanso, estando a frente de tantos negócios?

Isabel Borges: Hoje, eu busco a priorizar momentos de descanso. Estou no processo de entender as melhores maneiras. Uma coisa que eu acho que tem funcionado para mim não é, necessariamente, um período de descanso longo. Para mim, tem funcionado encontrar uma hora de folga, dentro de um dia de trabalho. Vou fazer outra coisa: assistir uma série, ouvir música, fazer uma meditação, enfim… você pode fazer isso, já dá uma clareada, já traz uma nova perspectiva. Porque é isso… a vida continua acontecendo.

Você falou, Isabel, de entrar em contato consigo mesma, acompanhando as redes sociais eu percebi que “Mulheres que Correm com os Lobos” da Clarissa Estés parece ser uma obra que te acompanha há algum tempo…

Isabel Borges: Fiquei interessada nesse livro, comprei há um tempão atrás. Comecei a ler as primeiras páginas mas, não rolou… Hoje, eu sei que não era o momento, sabe? Depois de um tempo, ao passar por uma situação difícil na minha vida pessoal, foi que eu pude entrar nesse mundo, foi uma porta de entrada para essa visão da necessidade de um mundo com o feminino curado, desse reencontro, dessa reconexão que a gente precisa fazer com essa mulher selvagem, com essa mulher que corre com os lobos que existe dentro da gente. A questão descansar, passa muito por isso. A gente está no mundo em que o “masculino” e características do “masculino” são muito valorizadas. Nosso feminino, nossos saberes femininos, essas características foram subjugadas ao longo do tempo. Tudo isso foi muito sufocado dentro da gente. Mas a gente tem. É nosso! Tá ali! A gente só precisa se reconectar a essa energia, a essa sabedoria, essa conexão com aquilo que é feminino.

A Curly Care, é fruto desse reencontro com essa sabedoria feminina?

Isabel Borges: Foi um projeto enorme, durou muito tempo para ser desenvolvido. Foi um processo muito longo que levou… eu acho que durou uns três anos, quase isso, para a gente chegar na culminância do lançamento da Curly Care. Criar uma marca como a Curly é um projeto, realmente, muito trabalhoso. Acho que todos os negócios são trabalhosos, cada um do seu jeito, né? Mas, você desenvolver uma marca de cosméticos, já é um projeto, realmente, um pouco mais complexo, né?

E o Curly Space? Fala um pouco dessa novidade!

Isabel Borges: A partir da Curly Care veio essa ideia de ter um espaço físico para marca, onde a gente pudesse ter o conceito, a identidade visual aplicada fisicamente e onde a gente fez esse espaço que mescla venda de produtos com a realização de serviços. Um espaço da Curly Care que abriu recentemente no Shopping Nova América, no Rio de Janeiro. Um projeto muito lindo!

Quer deixar uma dica para quem está nos lendo?

Isabel Borges: Dentro dos tópicos que conversamos, acho que seria importante dizer que a gente não tem controle sobre as coisas que acontecem, sobretudo quando a gente busca esse tipo de controle. Acho que o que a Curly Care pode ensinar (para qualquer pessoa que possa estar buscando fazer algum projeto na vida) é se esforçar para fazer o melhor que você pode. Empreender é conseguir lidar com essas situações, é resolver essas situações de uma forma que você consegue. Tentar fazer do limão uma limonada. Buscar entregar o melhor que você tem. As situações difíceis levam a muitos aprendizados e todos os envolvidos saem mais e com mais aprendizados.

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