Porosidade Capilar, pH e Acidificação

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Porosidade Capilar, pH e Acidificação

Se existem estrelas entre os temas recorrentes em blogs, canais de youtube e podcasts que falam de beleza e cuidados com os cabelos, o impacto do pH sobre as madeixas é – de longe – um destes assuntos.

Mas por que se fala tanto de pH, em especial de pH ácido, quando se discutem formas de cuidados dos cabelos?

Hoje, a gente vai te contar com detalhes o que é pH, como funciona a porosidade dos cabelos e o que acontece quando juntamos, no mesmo texto, pH e cabelos.

De volta para o Ensino Médio: Um pouquinho sobre pH

Quem lembra daquelas aulas de química sobre pH?

Algumas pessoas tiveram a sorte de ter professores de química com uma didática mais lúdica. Neste contexto, possivelmente puderam “brincar” com fitas medidoras de pH e reagentes que mudavam as cores de determinados líquidos na hora de estudar a escala que determina a acidez de uma substância.

Outras pessoas não tiveram esse privilégio e tiveram que aprender de uma forma mais teórica, usando tabelas e gráficos para entender como funciona a medição de pH.

Ambos os grupos, provavelmente, guardaram as informações básicas sobre a medição de pH:

1.O pH mede a acidez de uma substância
2.A escala de pH vai de 0 até 14
3.A metade desta escala (o pH 7) é onde encontra-se o pH neutro
4.Abaixo de 7 estão os pHs ácidos
5.Acima de 7 encontramos os pHs alcalinos (ou básicos)

Partindo destas considerações, podemos aplicar alguns destes conceitos aos cuidados com os cabelos.

Vamos explorar as possibilidades que o conhecimento sobre pH pode agregar?

Pode não parecer, mas seu cabelo é cheio de furinhos

Muitas pessoas acham que o cabelo é uma estrutura maciça, mas não é bem assim.

Os fios são compostos de múltiplas camadas e a parte mais externa do fio de cabelo é formada pela sobreposição de agrupamentos de células mortas, achatadas e sobrepostas.

Entre estes conjuntos de células existem pequenos espaços, que fazem o cabelo ter as características de um material poroso, ou seja um material com furinhos, capaz de absorver alguma parcela de líquidos.

O termo “porosidade capilar” é usado para falar justamente desta propriedade de entrada e saída de líquidos nos fios.

Costuma-se usar o termos porosidade alta, porosidade normal (ou média) e porosidade baixa.

1.Porosidade Alta: grande capacidade de absorção de líquidos e dificuldade de retenção destas substância. Um cabelo com “furinhos” demais. Sua vantagem é que fios porosos podem ser tingidos com tinturas não oxidantes sem muita dificuldade, já que os fios (propensos à absorção), deixam entrar uma quantidade maior de pigmentos. Desvantagens: textura áspera, opacidade e fragilidade.


2.Porosidade Média: absorção e retenção de líquidos parecem não ser problemas para quem tem uma porosidade considerada normal. São percebidos como cabelos que exigem baixa manutenção: são brilhantes, suficientemente resistentes e agradáveis ao toque.


3.Porosidade Baixa: fios com baixa capacidade de absorção de líquidos. São cabelos com aparência super-brilhante, escorregadios ao toque, normalmente grossos e fortes. São cabelos que secam rapidamente e que não absorvem tratamentos com facilidade.

Algumas pessoas podem usar a expressão “meu cabelo é poroso” para se referirem às características de um cabelo com porosidade alta (ou excessiva).

Mas, se você quiser evitar mal-entendidos, lembre que todo o cabelo é poroso, a distinção entre um tipo e outro de fio está no quão poroso cada cabelo é.

O que impacta a porosidade dos fios

Os cabelos têm uma porosidade natural, mas não necessariamente permanente ou estável.

Fatores biológicos e ambientais podem alterar a porosidade dos fios ao longo da vida.

Fios grisalhos, a medida que vão perdendo a cor, por exemplo, podem ficar mais porosos.

Mudanças hormonais e ambientais podem ser fatores que impactam a porosidade dos cabelos, por provocarem pequenas alterações na sua estrutura.

Mas, talvez uma das formas mais comuns (e evidentes) de alteração de porosidade se dê nas químicas de transformação e no uso de ferramentas de styling.

As químicas que descolorem, colorem e alteram o formato natural dos fios (como permanentes, relaxamentos e alisamentos) são transformações que submetem os cabelos a situações extremas.

A cutícula, essa parte exterior do fio da qual já falamos, não sai ilesa de um processo agressivo: perdem-se muitas daquelas células achatadas e, consequentemente, os fios ficam com mais furinhos (mais porosos).

Outra forma cotidiana de danos aos cabelos é através de ferramentas de calor.

Mesmo com aplicação de proteção térmica, o uso excessivo, repetido e constante de chapinha, baby liss e secador também danifica a proteína da qual os fios são feitos e a parte externa, a cutícula, sofre diretamente a ação do calor, já que é a primeira estrutura dos fios a entrar em contato, por exemplo, com a superfície fervente da prancha.

Quanto mais compridos os cabelos, maior é a tendência que as pontas tenham uma porosidade alta, já que a porção das extremidades do fio está sofrendo há mais tempo com os processos que citamos acima.

Mas o que o pH tem a ver com a porosidade capilar?

Chegamos ao principal ponto desse texto.

A literatura médica aponta que o cabelo é sensível ao pH ao qual está submetido e se comporta de maneiras diferentes dependendo da faixa de pH na qual está inserida.

Faixas de pH alcalinas fazem com que os cabelos absorvam mais água, isso faz com que os fios se expandam (como se ficassem inchados). Quando esse inchaço é demasiado, ele pode danificar a cutícula.

Já intervalos de pH levemente ácidos diminuem essa absorção excessiva de água, e parecem “apertar” as células da cutícula umas contra as outras.

A vez do Acidificante

E você sabe o que acontece quando esse tipo de descoberta é feita? A tecnologia é adaptada ao nosso favor! 

Assim, começam a surgir produtos cujo objetivo é justamente o de trazer o pH dos fios para estas faixas de pH levemente ácidas.

O nome desse salvador da pátria dos cabelos altamente porosos é acidificante.

Percebe-se que o resultado da acidificação com este tipo de produto, além dos benefícios funcionais de diminuição do inchaço, também tem impacto estético.

Quando as células que formam a parte exterior dos fios são submetidas às faixas levemente ácidas de pH do acidificante, elas ficam mais alinhadas e refletem melhor a luz, deixando os fios mais brilhantes. 

Outra vantagem é que o frizz também tende a diminuir em faixas de pH mais “baixas”.

Ou seja, os benefícios do acidificante são muitos, em especial para cabelos com problemas associados à porosidade alta: diminuição do inchaço, “fechamento” da cutícula (essa parte mais externa dos fios), aumento do brilho e diminuição do frizz.

Convenhamos… quem não quer um cabelo com estas características?

Sabe de onde vieram estas informações?

Gavazzoni Dias, M. F. R., de Almeida, A. M., Cecato, P. M. R., Adriano, A. R., & Pichler, J. (2014). The Shampoo pH can Affect the Hair: Myth or Reality? International Journal of Trichology, 6(3), 95–99.

Kumar, A. & Mali, R. R. (2010). Evaluation of prepared shampoo formulations to compare formulated shampoo with marketed shampoos. International Journal of Pharmaceutical Sciences Review and Research v03 e01.

Mainkar, A. R. & Jolly, C.I. (2001). Formulation of natural shampoos. International Journal of Cosmetic Science v23 e01.

Robbins CR. (2012). The physical properties and cosmetic behavior of hair. In: Robbins CR, editor. Chemical and Physical Behavior of Human Hair. 5th ed. New York: Springer-Verlag.

Robbins CR, Crawford RJ. (1991). Cuticle damage and the tensile properties of human hair. J Soc Cosmet Chem. 42:59–67.

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