Reconstrução Capilar: Cabelo Pode Ser Reconstruído?
Quando falamos em Cronograma Capilar, os nomes de suas etapas podem levar a algumas presunções incorretas.
Isso se dá porque as etapas têm nomes figurativos, que fazem alusão à atividades do dia-a-dia, mas que não descrevem de forma concreta os efeitos de cada um destes processos.
O cabelo não “bebe” a água oferecida na hidratação e não “come” os ingredientes da etapa de nutrição.
Na etapa de Hidratação, os fios recebem um reforço de substâncias higroscópicas que ajudam os cabelos a manterem-se mais úmidos e maleáveis.
Na etapa de Nutrição, os fios são expostos à formulações oleosas que lubrificam as hastes capilares, melhorando a elasticidade e coesão dos fios.
Mas… e as proteínas e aminoácidos na etapa de reconstrução?
Estes ingredientes seriam capazes de reconstruir – de fato – os fios? Ou essa nomenclatura também parte do mesmo princípio de facilitar o entendimento do mecanismo de ação?
Cabelo é um tecido morto
As hastes dos cabelos são compostas de células mortas feitas, especialmente, de uma proteína chamada queratina.
Sua estrutura não é muito complicada.
Grosso modo, no centro do fio pode haver uma medula, em volta dela o CMC ou córtex (uma espécie de “colinha” que mantém as “peças” do cabelo todas juntas) e em volta do CMC sobreposições de estruturas achatadas como escamas. O conjunto destas escamas forma o que chamamos de cutícula.
É comum ouvir a afirmação de que o cabelo é um tecido morto, mas o que isso quer dizer?
Diferente da pele – por exemplo – que é um tecido vascularizado, sensível e “auto reparável”, os cabelos não têm sensibilidade, não tem circulação sanguínea e não são capazes de se regenerar.
Vamos usar um exemplo para comparar abaixo um tecido vivo e um tecido morto.
Se você encostar a chapinha na ponta da orelha (quem nunca?) – vai doer pra caramba, provavelmente se formará uma bolha, em alguns dias surgirá uma casquinha e, depois de um tempo, a área estará recuperada.
No caso dos cabelos, ao passar a chapinha ao longo dos fios não sentimos nada, o calor provavelmente forma rachaduras na cutícula, retira umidade do córtex e arranca algumas escamas. Entretanto, por mais que o cabelo seja danificado pelo calor, não há nenhum mecanismo do nosso corpo que tente recuperar esses estragos.
Tratamentos Capilares como Reposição de Substâncias
Como os cabelos não têm a capacidade de se regenerar, parte dos cuidados que temos com sua aparência são tentativas de reparar os danos que eles sofrem no dia-a-dia.
É como se fossemos usando ingredientes de hidratação, nutrição e reconstrução como formas de regenerar os fios.
Mas, existe um detalhe importante nesse processo: os tratamentos não são um reparo definitivo, leia um pouco mais sobre cronograma capilar neste link.
Todos os ingredientes que usamos nos cosméticos capilares têm vida útil, ou seja, em algum momento vão se “desligar” dos fios.
Isso nos leva à uma conclusão: não existe “reconstrução capilar”… pelo menos não no sentido que algumas pessoas pensam.
Reconstrução Capilar não Existe?
A etapa de reconstrução do Cronograma Capilar existe sim.
Os ingredientes proteicos (que fazem parte dessa etapa) também são bastante reais e têm impacto positivo em especial sobre fios super-danificados.
O que precisa ficar claro entre nós é que a reconstrução não é um reparo definitivo – ela é sempre uma solução temporária.
Por isso, cabelos que necessitam de cargas de proteína (os ingredientes de reconstrução), precisam fazê-lo de forma periódica, para ir repondo as proteínas com frequência.
As proteínas perdidas pelo cabelo (com o uso de fontes de calor, raios UV, água do mar, cloro da piscina ou descoloração) não podem ser regeneradas.
O que fazemos com a ajuda de proteínas são apenas reparos temporários.
Ah… Então Ingredientes de Reconstrução não Servem para Nada…
Nem oito nem oitenta. As proteínas não são ingredientes mágicos que reconstroem definitivamente os fios, mas nem por isso são inúteis.
Estas estruturas têm a capacidade de se ligar com os fios (em especial com as áreas mais danificadas do cabelo), ajudando a manter os fios mais íntegros e fortes.
Quem sofre com porosidade alta, falamos dela neste link, pode se beneficiar deste tipo de tratamento, pois as proteínas não se ligam apenas com estruturas internas dos fios.
Há indícios de que elas também se depositam sobre a superfície do cabelo, tapando “furinhos” que deixam os fios mais porosos e fragilizados.
Esse reparo, como já dissemos, é temporário, mas nem por isso deixa de ser um aliado importante, em especial na manutenção de cabelos danificados.
A frequência de uso, portanto, dependerá justamente do tamanho do dano sofrido pelos fios.
Reconstrução + acidificação: O combo para cabelos danificados
Normalmente, quem busca produtos com potencial reconstrutor são pessoas cujos cabelos passaram por procedimentos químicos agressivos.
Mudanças da fibra capilar como descoloração, mechas, coloração e químicas de transformação podem danificar bastante as proteínas dos fios.
Sempre que possível, busque profissionais experientes para estes procedimentos, pois existem formas de preparar os fios antes da química para minimizar danos (como o uso de tratamentos do tipo plex antes de descolorir).
Mas, mesmo em mãos habilidosas, os danos sofridos pelos fios podem aumentar bastante a porosidade capilar.
Nestes casos, é possível melhorar o aspecto e porosidade dos fios aliando máscaras com proteínas vegetais a tratamentos de acidificação.
A máscara com proteínas ajuda a substituir escamas que se soltaram dos fios e a acidificação ajuda a selar as cutículas dos cabelos.
Lembre-se que os danos sofridos não podem ser reparados de forma definitiva e, por esse motivo, não adianta usar o combo de tratamento com proteínas + acidificação apenas uma vez, é preciso refazê-lo sempre que sentir necessidade de fortalecer os fios.
Sabe de onde vieram estas informações?
Draelos, Z. D. (2005). Hair care: an illustrated dermatologic handbook. Taylor & Francis.
Gamez-Garcia, M., & North, C. •. (n.d.). Effects of some oils, emulsions, and other aqueous systems on the mechanical properties of hair at small deformations. In j. Soc. Cosmet. Chem (Vol. 44).
Talhate, Juliana. (2018). Técnicas Aplicadas à Estética Capilar. Editora e Distribuidora.