Transição Capilar: Existe corte ideal? Um texto para profissionais e clientes
Muitas vezes, quando se alisa o cabelo por muitos anos, a decisão pela transição pode ser bastante complicada.
Em alguns casos, o cabelo foi alisado por tanto tempo que a pessoa sequer lembra como eram os seus cachos.
O que fazer?
Hoje, queremos falar dos dois lados envolvidos na dinâmica de corte dos cabelos em transição.
Primeiro, qual é o papel do profissional nas orientações em torno do corte (ou dos cortes) durante a transição capilar – de que forma o olhar especializado dos cabeleireiros e cabeleireiras pode auxiliar nesse período delicado de quem decide viver com seu cabelo natural.
Em uma segunda parte, vamos falar, também, da importância da cliente se comunicar de forma clara e do quanto é essencial se fortalecer e buscar conteúdos de qualidade sobre cabelos naturais quando se está em transição.
Mas antes, vamos falar de duas expressões importantes do vocabulário usado por quem está nesse período de mudança. Estamos falando dos termos “transição” e “big chop”.
O que é transição capilar? O que é Big Chop?
Quando se trabalha com cabelos ondulados, cacheados e crespos, é importante entender o vocabulário que suas clientes usam para se referir ao próprio cabelo.
Duas expressões essenciais para os profissionais que lidam com cabelos naturais são: “transição” e “big chop”
“Transição” é o período em que sua cliente deixou de alisar os cabelos e passou a deixar os fios crescerem com sua textura natural. Isso pode ocorrer de forma voluntária (a cliente, um dia, decidiu parar de alisar) ou por um motivo de força maior (a cliente, por exemplo, ficou grávida e não vai alisar durante a gestação).
Já “big chop” é a expressão usada para designar o corte que retira toda a parte alisada do cabelo, revelando apenas o cabelo natural. Existem clientes que fazem o big chop bem no começo da transição, ficando com o cabelo bem curtinho, e outras que adiam o máximo possível esse momento para terem um corte mais longo imediatamente após o big chop.
Meu salão, minhas regras?
Em um mercado cada vez mais competitivo, o profissional que não se adequa às demandas do mercado acaba caindo no esquecimento.
Suas clientes precisam, hoje, muito mais do que das suas tesouras.
A mulher que entra em transição encara, muitas vezes, uma resistência (interna e externa) muito grande até tomar a decisão de deixar o alisamento de lado.
As pressões internas têm a ver com padrões do que é considerado bonito, com uma imagem distorcida do cabelo na infância e com um monte de inseguranças que cada uma de nós traz dentro de si.
Agora, quando falamos das pressões externas, elas vêm de todos os lados: do empregador, da amiga, do marido, da vizinha… sempre tem alguém pronto a dar palpite na cabeça dos outros, não é?
A cabeleireira pode ser como a técnica de enfermagem
Você tirou sangue, na sua infância, com uma técnica de enfermagem experiente e atenciosa?
Ela chega, dá bom dia para a criança, sorri, fala sobre alguma amenidade, senta na frente dela e diz: “vou amarrar o seu braço aqui em cima e depois vou retirar o sangue com essa agulha, vai ser como uma picadinha de formiga”.
Temos mais facilidade de lidar com as situações adversas quando sabemos pelo que vamos passar.
O cabeleireiro pode fazer esse papel na transição de suas clientes. Ele pode explicar para ela diversos dos problemas que ela nem sabe que vai enfrentar.
Com isso, é possível mostrar três coisas para sua cliente:
- que você tem experiência no assunto;
- que ela não é a única cliente em transição na sua agenda;
- e o mais importante: que você se importa com ela.
Seja o “porto seguro” das suas clientes
Se sua cliente já sofre com julgamentos internos e externos, que tal fazer um papel diferente na vida dela?
Que tal transformar a cadeira do seu salão em um lugar onde sua cliente é ouvida e acolhida?
Se você já percebeu que a transição não é apenas sobre mudança de cabelo, está de parabéns! Quando uma mulher muda de cabelo ela está pronta pra mudar de vida – não é o que dizem?
Ouça, com atenção e calma ao que ela diz e as perguntas que ela faz.
Quando ela dividir com você dificuldades práticas, ensine ela a lidar com aquele problema: mostre como definir o cacho, ensine a levantar o volume, mostre como faz para diminuir o frizz… Mas lembre-se que, para ensinar, é preciso saber fazer.
Seja a voz de incentivo, de carinho, de conselho, de ensino… e jogue sempre às claras.
Não cabe ao profissional decidir quando é o melhor momento de retirar toda a parte alisada. Nessa jornada, o cabeleireiro está no banco do passageiro.
O profissional instrui, ensina, esclarece e incentiva, mas a decisão cabe sempre à cliente.
Algumas dicas para você: cliente em transição
A transição é difícil, a gente sabe. Mas, tente enxergá-la como uma parte da sua jornada e não como sua vida toda.
Nesse momento difícil, estar cercada de pessoas que te veem como uma “igual” pode ser importante. Por isso, procure formas de se envolver em comunidades que partilham dessa jornada como algo coletivo. Isso pode fazer com que você se sinta mais enxergada e acolhida
Um profissional que trabalha com cabelos naturais pode ser um aliado importante. Ele entende, quase sempre, os seus conflitos internos e não vai se oferecer para alisar os seus cabelos sempre que a transição se mostrar mais dolorida do que você antecipou.
Converse sempre com seu cabeleireiro sobre as possibilidades que sua textura e corte oferecem.
Seja sincera sobre os seus limites e medos, nenhum profissional quer que você saia triste da cadeira de corte.
O big chop pode parecer assustador e, em diversos pontos realmente é.
Mas, grande parte das dificuldades da transição têm a ver com as duas texturas (a natural, próxima à raiz, e a alisada, junto às pontas) se seu cabeleireiro te incentiva a fazer o big chop, não encare isso como uma pressão: ele enxerga algumas coisas que você ainda não vê.
O profissional quer ver, o quanto antes, a sua melhor versão.